Reunião
da Diretoria com os professores.
Enquanto
o pessoal arranjava um lugar, dizendo gracinhas, fazendo barulho, incomodando
os outros, exatamente como dizemos odiar que os alunos façam, fiquei observando
o aspecto geral da galera. Nenhuma roupa de marca, nada no estilo Armani,
Gucci, Versolatto... Todas as roupas parecendo vir da mesma liquidação de fim
de ano. Definitivamente, não somos uma classe que ostenta. Muita bijuteria;
brilhantes nem pensar... Instintivamente olho para o estacionamento, apenas
para constatar que só há carros populares. Nenhuma Ferrari, Porsche, sequer um
Camaro, Honda Eclipse. Balanço a cabeça, como a dizer a mim mesmo que ao
abraçar a profissão de professor, abrimos mão do sucesso.
-
Gente! Gente! - a Diretora com a mão erguida também parecia fadada ao
insucesso - dá pé de sentar e ficarem quietos?
Depois
de muita insistência, o grupo se aquieta. Só um pouco. Aqui e ali conversas
paralelas, que tanto odiamos, criam um burburinho tal que a Diretora parece
desistir e vai ela participar também de uma conversa paralela.
- O
objetivo principal desta reunião de hoje é com relação aos alunos que chegam
atrasados.
Resolvo
acrescentar um tópico:
- E
sobre aquele aumento do salário que prometeram?
-
Fica para o ano que vem...
- E o
abono?
- Ano
que vem...
-
E...
- Tudo para o ano que vem. Hoje é só sobre a entrada dos alunos atrasados.
- Então tá.
- Então tá.
Assinto com o desânimo de quem constata que a profissão não é das melhores.
Fico
lembrando minha mãe brigando comigo, quando eu era criança:
-
Menino! Larga esse livro e vai brincar com o filho da empregada, o Romarinho.
Vê: ele está jogando bola...
- Não
mamãe! Eu quero ser alguém na vida e preciso estudar para alcançar meus
objetivos. Eu quero ter uma cobertura na Barra, carrões, mulheres, dinheiro...
- Mas
vai jogar só um pouquinho de futebol, meu filho. Descansa essas vistas. Vai
brincar com o Romarinho...
- Não
mamãe! Romarinho nem sabe ler. Ele nunca será famoso, nunca viajará pelo mundo,
não vai morar na Europa...
Ledo
engano. Eu devia era ter ido jogar futebol mesmo com o Romário.
As
palmas da professora me trouxeram de volta à reunião.
- É
um absurdo mesmo! Esses alunos chegam no final da aula e ainda sou obrigada a
lhes dar presença.
-
Então. Por isso mesmo, as regras mudaram. O aluno que chegar atrasado só pode
entrar pelos fundos, com o consentimento do professor.
Minha
cara de espanto deve ter sido ainda mais escandalosa que minha expressão:
- O
quê?!
-
Sim. O professor é que vai colocar o aluno para dentro, pela porta dos fundos.
- Tô
fora!
Teresa,
uma professora com fama de ninfomaníaca comentou:
- Eu
gostei.
É claro
que gostou, pensei. Mas eu é que não vou deixar ninguém entrar nos meus fundos.
Só aí
percebi o quanto somos assediados diuturnamente. A clássica expressão:
"vou colocar para fora" já até caiu em desuso.
"-
Professor: o senhor vai liberar mais cedo hoje?"
Que
mané, liberar nada!
-
"Dá licença que eu tô entrando, Mestre... mas fica tranquilo que vou me
acomodar atrás..."
Vá se
acomodar atrás da vovozinha!
Quando
um aluno recalcitra seja lá no que já tenha sido advertido, sempre um
coleguinha propõe:
-
"Bota prá fora, professor!"
Não
vou colocar nada para fora, eu hein...
- "Se o senhor permitir, eu lhe faço um trabalho e o senhor melhora minha nota..."
Que me fazer trabalho, o quê... Tome tenência, sujeito!
- "Vai valer ponto, professor?"
É
desgraçado. Se você não fizer, eu vou lhe arrebentar a cabeça com o apagador.
Aí você vai levar diversos pontos.
-
"Mas professor... não tem nada que eu possa fazer para melhorar minha
nota?"
Estudar!
Mas isso você não quer fazer, não é mesmo?
Não
bastasse tudo isso, agora vou ter que aturar:
-
Professor! O Jorjão ta lá embaixo pedindo que o senhor libere para ele entrar
pelos fundos.
-Tô
fora!
Gostei! Sou professora e fico reparando também, somos molambentos kkkkkkkkk
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