sábado, 25 de agosto de 2012

O Fator TARIAL

Solicito encarecidamente que leia a mensagem abaixo, até o final.


[...]Meu pai é militar, serve em um quartel da Marinha Brasileira. É sargento.
Por motivos óbvios, esse será o único detalhe pessoal que darei a meu

respeito. Enquanto desconheço as particularidades dos fatos que passo a
narrar, temo por minha segurança.
Sou meio avesso à fatos inacreditáveis. Se podem ser confirmados
cientificamente, ou se têm explicação lógica, fazem parte do meu cotidiano.
Caso contrário, prefiro mantê-los afastados do meu dia-a-dia. Esse
comentário é importante, pois sou muito cético em relação a ovnis,
espíritos, assombrações e similares. Quando leio em algum jornal ou revista
alguma notícia desse gênero, não me permito afetar por ela e passo ao
próximo tópico.
Há uns poucos meses atrás, li sobre o lançamento de um livro de uma
escritora brasileira cujo assunto seria a comunicação de extra-terrestres
com nossa civilização. Segundo ela, os habitantes de um outro planeta
estariam nos "acompanhando" o desenvolvimento desde os
primórdios. E sempre ajudando nosso desenvolvimento, influenciando,
"através dos sonhos", algumas mentes, que depois viriam a fazer
descobertas incríveis. Ainda segundo essa escritora, essa seria a explicação
para descobertas que mudariam o rumo da raça humana, expostas por mentes
incríveis, como Einstein, Galileu, Sócrates, apenas para citar alguns de
toda a história da humanidade. Desnecessário dizer que essa reportagem eu li
como quem lê um anúncio de cigarros com a foto de uma mulher bonita em
trajes sumários. A mulher chama a atenção, mas o conteúdo não suporta dez
segundos de raciocínio lógico. Por que eu vou comprar cigarros? Para fumar?
E que benefício isso me traz? .
A reportagem ainda falava que nos últimos anos esses seres estariam
contactando, através de sonhos, um número realmente expressivo de
terráqueos, de modo a nos ensinar e preparar para uma civilização melhor.
Esses sonhos seriam forjados segundo a crença de cada pessoa. Assim, se uma
pessoa acredita em anjos, em sonho seriam anjos que lhe apareceriam para lhe
dar ensinamentos que essa pessoa depois deveria repassar aos seus próximos.
Ou se a pessoa foi criada em uma religião cujos profetas têm contato com os
mortos, em seus sonhos um espírito de alguém conhecido é que lhe daria os
ensinamentos e assim por diante. Mas já nesse ponto eu passei adiante. Esse
assunto não pode ser comprovado cientificamente e justamente por isso não me
interessava. Mas deveria...
Periodicamente tenho uns sonhos tão ilógicos que desperto. Sou obrigado a
confessar que desde criança tenho o hábito de prestar atenção aos mínimos
detalhes de tudo o que me rodeia. Se algo destoa do racional, me chama a
atenção. E tudo o que é irracional nos meus sonhos, me faz despertar.
Justamente porque desde a infância tenho uns sonhos irracionais. Apenas para
citar um exemplo, se eu vejo uma pessoa pular de um prédio e sair voando, ao
invés de se esborrachar no chão, isso é uma prova de que estou dormindo.
Basta que eu acorde para comprovar. Imediatamente desperto para verificar
que estava absolutamente certo.
Acho que esse meu jeito racional me acompanha desde a tenra infância. Eu
tinha onze anos de idade quando o carteiro deixou uma carta em nossa casa. O
remetente era a minha mãe e havia um carimbo no envelope: AO REMETENTE
- DESTINATÁRIO NÃO ENCONTRADO. Com a falta de educação inerente a uma
criança da minha idade, abri a carta, que era dirigida a um famoso psicólogo
infantil da época:
"Prezado Dr. X:
Sou mãe de um menino de onze anos de idade que me surpreende pela
maturidade. Demorou muito a falar. Chegamos a levá-lo a especialistas, pois
quando queria determinada coisa simplesmente a apontava. Em vão tentávamos
fazer com que falasse, se bem que demonstrava nitidamente que compreendia
tudo o que dizíamos, o que afastava a hipótese de ser surdo. Sua primeira
palavra foi pronunciada aos dezoito meses. Ficou apontando uma prateleira no
alto do armário da cozinha e murmurando 'hã - hã`. Pensamos que
queria alguma coisa de lá e ficamos mostrando cada objeto que havia.
Mostramos biscoitos, pratos, xícaras, alimentos... depois de meia hora de
frustradas tentativas ele pronunciou: LAGARTIXA! - assim, sem nenhum
erro de pronúncia. E vimos que realmente uma lagartixa havia entrado no
armário. Daquele dia em diante ele passou a falar, como se sempre tivesse o
feito.
Isso foi apenas uma das esquisitices do meu filho, que não tem o costume
de brincar com os coleguinhas. Cerca de três meses depois, estávamos no
consultório do dentista. Ele iria fazer a sua primeira aplicação de flúor
nos dentes. Apontou para uma revista e perguntou: Mãe, o que é isso? Ao que
respondi: uma revista. E ele ficou repetindo a pergunta, com o dedinho
apontado para a capa. Uma senhora que estava olhando sorriu e falou: ele
está mostrando a letra M. Era a revista MANCHETE. Daquele dia em diante
sempre que notava uma letra nova em algum lugar, perguntava que letra era
aquela. Depois passou a perguntar que som faziam duas letras juntas. Ainda
assim, nos surpreendeu a todos quando antes de completar dois anos lia
perfeitamente. Quem percebeu foi o pai, que notou que nosso filho parara de
indagar a respeito das letras. Ele pensara em comprar um daqueles joguinhos
de cubos com letras para o menino, mas notou que este perdera o interesse.
Certa tarde, enquanto observava o menino brincando com jornais velhos,
perguntou por que não indagava mais quais eram as letras. Porque eu já sei
todas! Foi a sua resposta. O pai sorriu e começou a apontar as letras e
perguntar quais eram. E sem titubear, Ricardinho passou a apontar as letras
e dizer quais eram. Em poucos minutos meu marido me chamou e entregou o
jornal nas pequenas mãos do meu bebê, que passou a ler em voz alta um trecho
de uma reportagem.
Desse dia em diante, o pai passou a lhe comprar livros. Antes de entrar
para uma escolinha já havia lido livros que dificilmente a sua professora
lera. Leu Dickens, Jorge Amado, Poe, Nietzsche, Voltaire, e tantos outros,
cujos autores em geral era ele mesmo quem pedia, bastava que lesse alguma
citação em algum lugar.
Assim, talvez até mesmo por culpa nossa, sua vida social é muito
reservada. Seu prazer se resume desde então nos livros. Não pratica esporte
algum, não tem amigos, nem na escola ou no condomínio onde moramos,
raramente assiste televisão, não gosta de sair de casa e detesta receber
brinquedos de presente. Prefere livros. Não importa o assunto.
É comum também encontrá-lo sentado por horas a fio, como se estivesse em
transe. Nesses momentos, que estão se tornando cada vez mais freqüentes, não
costuma atender aos chamados e fica muito irritado se perturbado. Fico muito
preocupada em ver meu filho tão isolado. Estou correta em acreditar que ele
deveria estar brincando em vez de ler livros? Ultimamente tenho pensado em
proibí-lo de ler livros. Talvez limitá-lo a um livro ou dois por mês (ele
costuma ler quatro ou cinco por semana - às vezes chega a ler mais de
um, simultaneamente). O que o senhor acha? Agradeceria imensamente se o
senhor pudesse nos receber para uma consulta. Em caso de impossibilidade,
gostaria que o senhor me indicasse algum profissional a quem pudéssemos
recorrer..."
Lembro que quando li a carta de mamãe meu primeiro impulso foi de tentar
explicar a ela que os meus momentos de "transe" em geral eram
após a leitura de um livro, quando eu ficava raciocinando sobre o assunto
sobre o qual o autor discorrera. Nunca fui de simplesmente aceitar algo como
um fato, pelo menos não antes de uma criteriosa análise das informações
lidas. Então costumava sentar em determinado canto e ficar repensando,
digerindo cada palavra do que lera. Esse sempre foi o meu maior prazer na
leitura. Os momentos após, quando nada mais me distraía para poder analisar
o que lera. Não raro, pegava o livro de volta para conferir algo cuja
interpretação me causava alguma dúvida.
Quanto aos brinquedos, a leitura sempre me fascinou de tal modo, que os
brinquedos e brincadeiras das outras crianças me entediavam. Ler um livro
era muito mais fascinante!
Pensando no quanto minha mãe estava aflita e, muito mais preocupado em ser
privado do meu hábito, resolvi mudar meus costumes. A primeira atitude que
mudei foram os momentos de absorção após a leitura de um livro. Dizia que
estava com sono e me deitava. Fechava os olhos e continuava a repesar o que
acabara de ler. Creio que minha mãe nunca notou.
Passei a brincar com os brinquedos que tinha e nunca usara. Também os
usava para raciocinar sobre os livros. Quem me olhasse, diria que eu estava
brincando como qualquer criança normal. Na verdade, nem prestava atenção ao
brinquedo. Era apenas uma maneira de raciocinar sem ser interrompido, ou ser
considerado anormal.
O mais difícil foi me relacionar com as outras crianças da minha idade.
Suas conversas eram tão fúteis. E eles não morriam de amores por mim. Então
passei a me oferecer para ajudá-los nas matérias da escola que tivessem
dificuldade. Em troca, eles deveriam passar na minha casa e me chamar para
jogar ou brincar. Na verdade, eu escondia sob a blusa um livro e descia para
o play-ground. Corria um pouco, caía, me sujava e sentava a um canto para
prosseguir minha leitura. Quanta felicidade podia notar nos olhos de minha
mãe quando eu entrava em casa, todo sujo e cansado. Enfim, seu filho era uma
criança normal.
Quando estava cursando a oitava série, o colégio contratou uma nova
professora, que não dava aulas para minha turma, entretanto vivia me
encontrando na biblioteca do colégio, onde eu sempre perambulava, em busca
de algo de bom para ler. Passarei a chamá-la de Dona Teresa. Como eu, a
professora que devia estar com seus quarenta e poucos anos então, adorava
ler. Foi a única pessoa com quem eu comentara a respeito de algum livro até
então. Dona Teresa me indicou - e emprestou! - ótimos livros. Indiquei
a ela alguns dos que li também. Acho que foi a única pessoa da minha
infância que realmente me compreendeu. No fim do ano, após o término do ano
letivo, meu pai seria transferido para outro estado e eu teria que estudar
em outra escola. Dona Teresa me presenteou com um livro de M. Chandessus, um
historiador francês, especialista na história da França Medieval. Na
contra-capa, escreveu uma dedicatória: Ao meu companheiro, rato de
biblioteca...
Eu tinha então treze anos de idade.
No Segundo Grau eu já não era considerado tão esquisito assim. Afinal, é
justamente nessa faixa etária em que as crianças começam a descobrir o
prazer da leitura. Apenas os temas que eu lia é que eram meio exóticos. Mas
isso passava desapercebido pelos colegas e professores.
Terminei o curso secundário e entrei para uma faculdade de Matemática. Na
verdade, os números sempre me impressionaram. A lógica sempre me fascinou.
Terminei a faculdade e como tantos outros brasileiros, estou desempregado.
Andei lecionando em alguns colégios, mas confesso que não tenho a paciência
necessária a um professor. Não consigo entender a dificuldade que alguém
possa ter em compreender algo tão lógico como a matemática. Fiquei muito
frustrado enquanto lecionava. Antes do ano letivo terminar, pedi demissão do
colégio, alegando problemas de saúde, o que não deixava de ser verdade, pois
andava muito amargurado com a profissão escolhida.
Tenho atualmente vinte e três anos de idade, sou solteiro e não tenho
nenhuma namorada. Continuo tendo meus problemas de relacionamento. Meu pai
agora é lotado em uma base da Marinha. Adia ao máximo sua reforma. É aqui
que na verdade toda minha aflição começa.
Há alguns dias atrás, sonhei que ia visitar meu pai no quartel onde está
lotado e ele me apresentou ao seu Comandante. O Oficial foi muito cordial,
embora distante. Quando nos afastamos, meu pai explicou que estavam com um
problema com um canhão que o Brasil comprara recentemente dos Estados
Unidos, pois não conseguiam que o tiro chegasse sequer perto do alvo. O
artefato chegou a ser levado de volta e lá, para desespero dos técnicos
brasileiros, o aparelho funcionou perfeitamente bem. Os técnicos
norte-americanos chegaram a comentar que era apenas resultado da imperícia
dos militares brasileiros, que ficaram mordidos com o comentário. Mas, a
despeito de tudo o que tentassem, não conseguiam apontar de maneira
aproximada que fosse, o tiro do artefato. Sendo filho de militar e tendo
algum conhecimento de tiros de artilharia, sei que um canhão atira sem ver o
alvo. A trajetória de seu projétil é calculada com base nas informações do
terreno. Raciocinando assim, excluí qualquer possibilidade de erro do
aparelho. Disse ao meu pai:
- Estão procurando no lugar errado...
- Como assim? - interessou-se.
- Não há defeito no canhão, ou na sua carga de pólvora. É a latitude!
- Latitude?
- Sim. A Terra não é uma bola redonda. Ela é achatada e um pouco mais larga
na metade sul. Vocês estão usando uma tabela de valores para latitudes acima
da linha do Equador. Mudem a tabela ou convertam seus valores... se quiser,
posso fazer isso...
Nesse momento, ouvi uma ovação. Alguém gritava eufórico:
- Eu não disse? Esse é o homem! Tragam-no para trabalhar no Fator Tarial!
É ele a peça que falta!
A voz vinha de todos os cantos e de lugar nenhum ao mesmo tempo. Era tão
ilógico que despertei.
Ainda era madrugada. Fui até a cozinha e preparei um chocolate quente.
Apesar de tentar não fazer barulho, acho que não consegui, pois logo meu pai
entrou pela cozinha.
- Perdeu o sono, filho?
Enquanto levava a xícara à boca, assenti com a cabeça. O velho serviu-se
de outra xícara de chocolate e sentou à minha frente.
- Pai, o que é Fator Tarial?
A expressão de seu rosto se contraiu de tal maneira que me assustei. Notei
que estava em uma profunda luta interna. A xícara ficou suspensa no ar, no
caminho de sua boca. Ficou me fitando firmemente. Por fim, resolveu falar:
- Não gosto que você ou qualquer outra pessoa mexa nos documentos que eu
eventualmente trago para casa.
Dessa feita, foi a minha vez de ficar surpreso. Além de realmente ser algo
que existia, ele estava trabalhando nisso! Meio nervoso, como que sem saber
que atitude tomar, tentei repetir o que dissera no sonho:
- Eles estão procurando no lugar errado. A Terra não é uma bola. É
achatada nos pólos e mais larga na metade sul. Estão usando valores de
latitudes relativas ao norte do Equador. Precisam trocar os valores que têm
por valores relativos ao sul.
Meu pai ficou me olhando com surpresa. O que me deu oportunidade para
explicar que a curvatura da terra nos trópicos ao sul do Equador era menor
que ao norte. Então, uma tabela de cálculos para disparar um canhão de longo
alcance no norte tenderia a errar o tiro ao sul, simplesmente porque a terra
no sul é mais plana. Meu pai ouviu com atenção minha explicação. Não fez uma
pergunta sequer. Por fim, levantou-se e disse:
- Adorei a sua aula. Agora volte a dormir. Quando eu voltar conversaremos
sobre os documentos que trago para casa.
Deu duas pancadinhas em meu ombro e foi para o banheiro, fazer a barba e
tomar um banho.
Dois dias depois o helicóptero em que viajava caiu no mar, quando ia para
uma ilha onde a marinha realiza testes. Apenas o corpo do piloto foi
resgatado. Os corpos dos outros quatro tripulantes jamais foram encontrados.
O enterro simbólico foi ontem. Durante o velório, notei algumas pessoas em
atitude estranha. Haviam seis homens, dispersos pela massa de amigos e
parentes, aparentemente isolados uns dos outros, que se fitavam entre si
esporadicamente e a todo momento um deles estava me olhando fixamente. Os
seis estavam usando ternos escuros. Aparentavam cerca de trinta anos e
possuíam compleição física de militares. Mas evidentemente eram
desconhecidos dos militares presentes ao velório. Como já citei antes, sou
muito observador, os detalhes me impressionam. Apesar de ser um velório de
um militar, aqueles militares de terno e gravata destoavam do conjunto. Acho
que os fitei com tanta insistência que seria capaz de reconhecê-los em
qualquer lugar agora.
Isso me valeu de algo, pois hoje pela manhã, fui ao quartel pegar os
pertences de meu pai e notei que fui seguido por todo o dia por um carro com
dois desses sujeitos em seu interior. Apesar de estarem usando roupas
esportivas e parecerem dois amigos em atitude normal, os reconheci
facilmente. Do quartel fui ao banco para sacar um dinheiro da poupança. Na
saída, na calçada defronte ao banco um casal conversava em tom baixo. A
mulher eu nunca vira, mas o homem era um dos seis. Procurei gravar a
fisionomia da mulher. Parei num sinal perto de casa e no carro ao lado,
conversando animadamente ao celular, notei outro dos seis homens, este nem
sequer me olhou. Não tenho dúvidas, estou sendo seguido.
Não sei o que está acontecendo, mas tenho certeza de que há algo estranho.
Primeiro o sonho com o Fator Tarial, depois a morte de meu pai e finalmente
as pessoas que estão me seguindo. Temo por minha segurança. Como ainda não
tenho a menor idéia do que possa estar acontecendo, estou enviando uma cópia
desse texto para diversas pessoas, aleatoriamente, que tenham alguma coisa a
ver com o jornalismo. Criei um programa de computador que envia
automaticamente por e-mail esses textos para as pessoas pré-determinadas.
Ainda que algo venha a acontecer comigo, essas pessoas receberão as
mensagens já escritas. Se eu levar um determinado número de dias sem
reprogramar, o destinatário receberá uma mensagem dizendo "Com essa
mensagem você fica sabendo que Ricardo está morto". Solicito ao amigo
que está recebendo esse texto que só então publique essas linhas. [..]

(Se desejar ler mais dessa narrativa, escreva um comentário no livro de visitas)

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